Encontro com a Criança Interior
Um termo que tem sido banalizado
Leandro Piccoli
8/15/20232 min read


Muito tem se falado sobre encontro com a criança interior, a tal ponto que esse termo já está sendo banalizado. Mas quero refletir mais profundamente acerca da grandiosidade desse tema, que não pode ser tratado meramente da atual forma poética e romantizada.
Encontrar-se com a criança que habita em nós, tem muito mais a ver com o resgate da mais pura essência individual, a que um colóquio lúdico.
Inevitável refletir sobre esse tema sem citar a passagem do evangelho de Mateus 18, onde Jesus afirma que para se tornar maior no reino dos céus, deve se tornar humilde como uma criança.
A única maneira de criar uma relação de confiança é enxergar com os olhos da alma a criança que habita no outro. Sabe aquelas pessoas com quem nos sentimos à vontade, que não precisamos estar atentos às falas e ao nosso comportamento, fingindo sermos “gente grande”? É sobre isso! Pessoas que veem nosso âmago, que nos fazem sermos leves e capazes de expressar nossos mais ousados sonhos e nossas mais pesadas dores. Enfim, pessoas capazes de se conectarem com a nossa criança interior.
Essa deveria ser a real função de um bom terapeuta: criar relação com a criança interior de seus atendidos. Numa realidade cada vez mais mercantil, onde se mantém apenas a seriedade profissional, é impreterível que se substituam transações comerciais por relações profundas.
O maior terapeuta de todos os tempos era especialista em criar relações. Jesus sabia que só aprendemos as verdades e transformamos nossas vidas por meio dos relacionamentos. E essa deve ser a base de todo processo terapêutico.
Além da capacidade de criar relação com a pureza intrínseca citada até aqui, cabe ressaltar também da disponibilidade do indivíduo em revelar o infante que em si habita. Essa disponibilidade é um ato de humildade que agiganta quem o pratica. “Aquele que se fizer humilde como esta criança será maior no Reino dos Céus” (Mt 18, 4).
Mas é compreensível o fato de que ao longo da existência, maus-tratos, agressões e traições engrossaram a casca da maioria das pessoas, que criaram uma armadura protetora para possíveis invasões da psique. Uma aparência externa que esconde um amontoado de sentimentos corrosivos autodestrutivos, que clamam por ajuda, porém, como um grito interno inaudível ao seu redor.
A junção de um ser com olhar sagaz para enxergar a mais pura essência interna, com outro despojado ao revelar sua criança interior é que gera a real transformação desse que se deixa ser revelado e com muita humildade busca a metamorfose irreversível.